
TEXTO Liliana Santos
Uma das criaturas mais ruidosas durante a Primavera. Esta Rã-verde é facilmente encontrada em quase todos os tipos de habitat aquático. Note-se os seus proeminentes olhos dourados e no seu dorso a característica linha verde com duas pregas a combinar com a cor dos olhos.

Distribuição
A rã-verde ocorre apenas na Península Ibérica e no sul de França. ILUSTRAÇÃO Manuel Vieira DADOS Atlas dos Anfíbios e Répteis ICNF
Quando caminhamos junto a uma ribeira ou um charco, é comum podermos observar muitos animais, e pensar “Uau, tantos animais diferentes!”. Porém, quando damos conta, a maioria dos indivíduos são todos rãs-verdes (Rana perezi ou actualmente Pelophylax perezi). As rãs-verdes são realmente muito comuns, e consegue-se facilmente observar muitos indivíduos dispersos nas margens a aproveitar o sol.
Para os nossos avós, estes pequenos seres vivos, sempre foram vistos como animais perigosos, diziam-nos sempre para não nos aproximarmos pois a sua urina poderia cegar-nos. Hoje em dia, sabemos que tal não acontece. Contudo, estes animais têm uma pele muito viscosa coberta de glândulas que excretam um muco que humidifica a pele, ajuda na difusão de gases e ainda limita o aparecimento de possíveis contaminações de micróbios, podendo ser irritante ao toque com os olhos e com as mucosas.

A sua coloração dorsal pode variar do verde ao castanho, com algumas manchas mais escuras. Possuem uma linha vertebral verde clara e na parte ventral costumam ser esbranquiçadas. Os tímpanos são sempre visíveis. FOTOGRAFIA Manuel Vieira
As rãs-verdes apresentam uma coloração muito variável que vai do verde ao castanho, o que nos pode levar a pensar que estamos a observar espécies diferentes. Geralmente possuem duas pregas dorso laterais amareladas ou acastanhadas com uma linha vertebral que pode ser verde ou amarela, e uns olhos grandes com pupila horizontal elíptica e íris dourada. Outras espécies semelhantes podem surgir nos mesmos locais, tais como a rã-ibérica (Rana iberica) ou a rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi), distinguíveis pela ausência de um tímpano na rã-de-focinho-pontiagudo, ou pela zona ventral possuir manchas castanhas na rã-ibérica.
Poucos animais são mais barulhentos nas noites primaveris. Nestas noites, nas proximidades dos locais com rãs-verdes ouve-se o característico “CREEE CREEE” produzido pelos machos para atrair as fêmeas e competir com os outros machos. Estes sons são produzidos em simultâneo com o enchimento dos sacos vocais, que antigamente se pensava que eram usados para ressoar o som produzido. Actualmente, vários estudos mostram que os sacos não servem para intensificar o som, mas que servem sim, para ajudar as fêmeas a reconhecer o macho certo.
A rã-verde possui uma dieta muito diversa. Alimentando-se de insectos, aranhas, minhocas e moluscos, comem ainda alguns peixes pequenos e até mesmo anfíbios. Mais, quando necessário estes animais são canibais, podendo sobreviver num charco onde existe pouco alimento. Este anfíbio, como muitos outros, é crucial para a manutenção saudável da água doce superficial, pois mantém controladas as populações de insectos vectores de doenças. Esta é apenas uma das razões pela qual se recomenda a protecção dos chacos temporários, pois para além de ajudarem no controlo de pragas agrícolas ou insectos vectores de doenças, ajudam na manutenção da humidade do solo em períodos secos, na purificação da água, no abastecimento dos aquíferos subterrâneos e ainda têm funções importantes como bebedouros para o gado.

Habitat
A rã-verde (Pelophylax perezi) é dos anfíbios mais abundantes em Portugal. Podemos encontrá-las em rios, charcos temporários, fontes e até em valas das hortas.
Apesar da sua abundância, os mais variados perigos a que estão sujeitos podem fazer com que essa abundância diminua. Atropelamento, degradação dos seus habitats, poluição aquática e introdução de novas espécies, como o lagostim-vermelho-da-Louisiana, são os principais factores que podem levar à a diminuição da rã-verde e dos outros anfíbios. Nalguns locais é fácil observar que a rã-verde é um festim para as cegonhas na altura de nidificação, bem como para os lagostins-vermelhos-da-Louisiana, sendo estes últimos os grandes inimigos dos anfíbios, pois invadem os seus habitats e podem comer as suas posturas.
Bibliografia Loureiro, A., Ferrand de Almeida, N., Carretero, M.A., Paulo, O.S. (Eds.), 2008. Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal. ICNF, Lisboa.