Texto de Lese Costa
Hoje em dia, quando se ouve falar em atum, associa-se logo à conserva que encontramos na maioria dos supermercados que frequentamos.
É o terceiro peixe mais consumido entre nós, devido ao seu reduzido preço e fácil preparação, mas também é muito associado aos benefícios da inclusão de ómega-3 na nossa alimentação. Mas o que é realmente um atum é muito difícil de ser identificada pelo consumidor comum. O seu reconhecimento tem actualmente duas formas: Sushi/Sashimi ou lata de conserva. Mas o atum é muito mais do que o que nos aparece no prato. Existindo várias espécies de atuns nos três grandes oceanos, este é um dos peixes mais velozes e mais elegantes dos principais oceanos onde habita. O bonito (Katsuwonus pelamis), o patudo (Thunnus obesus) e o voador (Thunnus alalunga) são as três espécies mais conhecidas e mais apreciadas em termos culinários.
O Algarve é uma zona de passagem para algumas espécies, aquando da sua migração a caminho do Mediterrâneo e, por isso, esta pesca foi, desde muito cedo, importante para o desenvolvimento das comunidades costeiras. Já no século XVIII, pescadores do Reino do Algarve tinham por hábito cortar as cabeças dos atuns logo após a sua captura, retirando-lhes as entranhas. De seguida escalavam-nos, isto é, abriam os peixes na horizontal, e cortavam-nos às postas. Era habitual salgar o peixe para ser comido nos meses mais rigorosos do Inverno, procedimento esse que foi evoluindo até surgirem as conservas em lata no século XIX e, mais tarde, a indústria conserveira, uma das maiores proliferações industriais de toda a costa algarvia. As famosas armações de atum com grandes dimensões existiram por toda a costa, até meados do século XX.
é um dos peixes mais velozes e mais elegantes dos principais oceanos
Portugal chegou a ser um dos principais exportadores de conservas durante a segunda Grande Guerra, pelo que a crescente procura deste peixe no último século levou a uma crescente preocupação relativamente à preservação da espécie. O valor comercial atribuído ao atum tem vindo a aumentar bastante nas últimas décadas, assim como o número de indivíduos capturados. Segundo a classificação do IUCN (International Union for Conservation of Nature), algumas espécies de atuns estão já em perigo de extinção, devido à sua grande vulnerabilidade e à sua contínua procura para os mais elaborados pratos de sushi. No Japão, todos os anos vai a leilão o primeiro grande atum-rabilho capturado, sendo normalmente arrematado por milhões de euros. Este negócio só visa interesses económicos e deixa de parte qualquer preocupação sobre a continuidade das espécies. No nosso país, embora não seja prática comum consumir-se atum fresco, algumas das espécies mais vulneráveis continuam a ser capturadas em grande quantidade. Não há, em Portugal, qualquer tipo de legislação específica acerca das quotas de captura, regendo-se assim somente pela norma europeia. Todos os anos são atribuídas quotas às três principais espécies, mas nem sempre são cumpridos esses valores. Em contrapartida, nos Açores, é praticada uma das mais sustentáveis pescas de atum do mundo, muito devido a um programa de observação que controla a captura de outras espécies que não deveriam ser apanhadas, designada de pesca acessória. É importante haver uma consciencialização global sobre a hipótese do desaparecimento deste peixe considerado indispensável na nossa alimentação.
algumas espécies de atuns estão já em perigo de extinção, devido à sua grande vulnerabilidade e à sua contínua procura
Agora lanço um desafio: Vá até à sua dispensa e leia as informações contidas nas latas de conservas. Consegue saber quando e onde foi pescado o atum? Que espécies é que existem na lata? Não deveriamos saber mais sobre aquilo que colocamos no prato?