Ministro do Ambiente aprova destruição da Praia de Dona Ana (Maio)
A Associação Almargem congratula-se pelo facto de o Ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, ter visitado ontem as obras em curso na Praia de Dona Ana. Tal atitude só vem demonstrar a gravidade do que está em causa nesta praia do concelho de Lagos.
Foto: Manu Pereira
Diz o Ministro Moreira da Silva, e muito bem, que a segurança das pessoas e a preservação da paisagem devem ser os dois princípios essenciais a ser compatibilizados. Mas será que as intervenções em curso na costa algarvia, com enchimento de praias e consequente soterramento de leixões, falésias e outros marcos paisagísticos fundamentais, se insere nesta perspectiva consensual?
A Almargem vem relembrar ao Ministro Moreira da Silva o caso paradigmático da Praia da Rocha, onde foi mais que preservada a segurança dos banhistas com o enchimento desmesurado da praia, mas onde simultaneamente se destruiu para sempre a sua dimensão paisagística com o desaparecimento dos monumentais rochedos, arcos e leixões que lhe valeram a fama e o próprio nome. E na Praia de Dona Ana o mesmo está em vias de acontecer, pois vários rochedos acabarão por ficar soterrados, para além do inimaginável impacto paisagístico que o previsto dique de ligação entre a praia e o Leixão dos Artilheiros vai ter.
A solução que a Almargem propôs, e que aparentemente não mereceu resposta do Ministro Moreira da Silva, consiste em colocar nas praias uma vedação dissuasiva, formada por simples estacas e corda, em volta de todas as zonas de risco. No caso da Praia de Dona Ana isso iria diminuir drasticamente a lotação do areal, mas só dessa forma seria assegurada a segurança das pessoas e a preservação da paisagem local.
Para a Almargem é evidente que o Ministro Moreira da Silva se "esqueceu" de falar de um terceiro princípio essencial - proteger, a todo o custo, os interesses da indústria do turismo de massas, garantindo lugar nas praias para os veraneantes que, graças às descontroladas políticas de construção e invasão da orla costeira, se têm acumulado junto da Praia de Dona Ana e muitas outras zonas do litoral algarvio. E é esse o verdadeiro fio condutor das intervenções do Governo nesta matéria, por muito sensatas e conciliadoras que sejam depois as declarações dos seus responsáveis.
Por outro lado, é bom não esquecer que uma grande parte dos acidentes que têm acontecido, nos últimos anos, nas nossas falésias, diz respeito a turistas e outras pessoas que aí têm caído não por estarem na praia mas sim por se terem chegado demasiado à beira do precipício. E, no caso concreto da Praia de Dona Ana e da Ponta da Piedade, algumas das principais actividades de animação turística consistem em caminhadas no topo das arribas e passeios de barco à sombra das falésias e que chegam mesmo a entrar em grutas submarinas.
O que vai o Governo fazer para garantir a segurança das pessoas nestes casos: interditar o acesso às falésias e proibir os passeios de barco ?
As falésias são, naturalmente, zonas de risco e deveria haver intervenções e campanhas de sensibilização que permitissem uma utilização sensata da sua superfície e das praias subjacentes. Mas, antes de tudo o mais, deveria ser proibida ou, caso necessário, demolida qualquer tipo de construção pesada à sua beira (como na Praia de Dona Ana), pois esse é um factor primordial para a sua desestabilização.
Como a Associação Almargem também já referiu, no âmbito das intervenções nas praias cada caso é um caso. E tendo em conta a reputação internacional da Praia de Dona Ana, ninguém poderá duvidar que o mais adequado seria ter posto à discussão pública o respectivo plano de intervenção, de forma a encontrar-se uma verdadeira solução consensual.
O Governo não quis que tal acontecesse e, assim, o que está hoje em marcha na Praia de Dona Ana é, apenas e só, um crime contra o património mundial e contra a credibilidade de Portugal e do Algarve como destino turístico sustentável, o que, infelizmente, já vai merecendo a atenção de conceituados órgãos de comunicação social estrangeiros, como foi o caso recente do Courrier International.
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