Dona Ana: praia mais bonita do mundo vai ser destruída ! (Abril)
A intervenção de recarga artificial da Praia de Dona Ana (Lagos), vem de novo levantar a polémica em torno das soluções que têm sido postas em prática para, alegadamente, tornar mais seguras as praias do Algarve face ao risco de desabamento das arribas.
A temática sobre a erosão das falésias no Algarve e dos riscos que acarreta para o turismo, foi amplificada no Verão de 2009 quando na Praia Maria Luísa morreram soterrados vários banhistas. Daí para cá multiplicaram-se as intervenções pesadas em muitas das principais praias algarvias, com desbaste ou betonização das arribas e recarga artificial com areias dragadas no fundo do mar.
As zonas de arriba que estão consideradas como de maior risco estão há muito identificadas, situando-se maioritariamente entre a Ponta da Piedade (Lagos) e os Olhos de Água (Albufeira). O que mais salta à vista nestes vários cenários de risco é que, em quase todos eles, as arribas se encontram fortemente ocupadas por urbanizações turísticas, muitas delas mesmo junto à beira da falésia, surgindo com regularidade ainda mais novas construções.
No caso da Praia de Dona Ana, as falésias sobranceiras à praia foram sendo ocupadas, ao longo das últimas décadas e com a conivência das autoridades, por grandes empreendimentos turísticos (Edifício Montana, Condomínio Iberlagos) que, para além de exercerem uma enorme pressão física sobre as rochas, a qual potencia a abertura de falhas e o desmoronamento da arriba, aumentaram exponencialmente a procura da praia pelos turistas aí alojados. A consequente falta de espaço no areal numa praia relativamente pequena, como é típico desta zona do Barlavento, tem levado à crescente utilização pelos banhistas de espaços na base das falésias.
Na sequência de outras acções anteriores, com desmantelamento total de leixões, a solução agora em marcha na Praia de Dona Ana consiste em aumentar a largura da praia com recarga artificial de areias o que implica a subida da cota do terreno emerso e o soterramento parcial das falésias e leixões envolventes. Consequência óbvia de tudo isto é a destruição da paisagem marítima ancestral e deslumbrante da Praia de Dona Ana, razão principal para ter sido recentemente considerada a "praia mais bonita do mundo" (revista Condé Nast Traveller) e a "melhor praia de Portugal" (prémios TripAdvisor).
Situações como esta têm-se multiplicado nos últimos anos no Algarve (praias de Albufeira, Castelo, Senhora da Rocha, etc.). Para além da instabilidade natural das arribas e da necessidade em proteger os banhistas, outro argumento amiúde invocado é a lenta subida do nível médio do mar devido às alterações climáticas.
A Associação Almargem considera ser necessário colocar este assunto numa dimensão algo diferente.
Como aconteceu há décadas na Praia da Rocha, a recarga artificial das praias com aumento das respectivas cotas e larguras tem, na verdade, dois objectivos prioritários:
- evitar a erosão das falésias, mas sobretudo para tentar proteger as construções turísticas que nas últimas décadas aí foram sendo indevidamente instaladas;
- aumentar a capacidade de ocupação das praias, encaixando o fluxo crescente de banhistas à medida que a urbanização foi avançando nas zonas envolventes.
Por outro lado, estas intervenções, por si só, não fazem desaparecer o risco para os banhistas que frequentam as praias de arribas instáveis. De acordo com os dados técnicos existentes, a faixa de risco real abrange 1,5 vezes a altura da falésia, isto é, entre 40 a 70 metros de largura na maior parte das praias algarvias.
Pode assim afirmar-se que, com ou sem realimentação artificial, todas as praias de arribas do Algarve, sobretudo as que estão sujeitas a um maior peso da ocupação urbana do bordo das falésias, continuarão a pôr em risco os seus utilizadores.
Custe o que custar à imagem turística do Algarve, a única solução adequada e honesta passa por manter uma ocupação parcial de cada praia independentemente do seu tamanho e da sua capacidade, delimitando no terreno, com vedações ligeiras de estacas e corda, a respectiva zona de risco.
A este respeito é importante sublinhar que muitos milhares de euros têm sido gastos nos últimos anos com intervenções na margem das falésias, incluindo construção de percursos pedonais, miradouros, barreiras de protecção e passadiços, aumentando nalguns casos ainda mais a pressão sobre as rochas instáveis, como acontece, por exemplo, na própria Praia Maria Luísa. Isto para além dos largos milhões empregues nas intervenções mais pesadas de regularização das arribas e realimentação artificial das praias. Só na Praia de Dona Ana estão previstos gastarem-se cerca de 2 milhões de euros, um negócio feito à custa de todos nós.
Mas, na verdade, pouco ou nada tem sido feito para delimitar efectivamente no terreno as zonas de risco para os banhistas, para além da instalação de discretos painéis informativos e placas de alerta, o que indica que o que verdadeiramente importa para as entidades responsáveis não é a segurança das pessoas mas sim a preservação da imagem de praias idílicas com falésias maravilhosas, apesar de naturalmente instáveis.
Outros dois aspectos habilmente escamoteados em todo este processo têm a ver com o impacto ambiental da dragagem das areias utilizadas para a realimentação das praias e a razão fundamental para a escassez de sedimentos na costa algarvia.
As areias das praias algarvias têm como principais origens a própria erosão natural das falésias e os sedimentos transportados ao longo dos séculos pelas diversas ribeiras e barrancos que desaguam na costa envolvente. Ora sucede que uma grande parte desses cursos de água ou se encontram represados, no caso dos de maiores dimensões (Guadiana, Arade), ou têm vindo a perder capacidade de carga por assoreamento ou, pura e simplesmente, são bloqueados no seu acesso ao mar, impedindo assim o fluxo normal de sedimentos até à costa.
Como já não há suficiente produção e transporte natural de areias, estas têm vindo a ser procuradas no fundo do mar ou em estuários adjacentes. No caso das dragagens ao longo da costa algarvia, desconhece-se o impacto que têm tido sobre os ecossistemas marinhos e sobre os recursos pesqueiros que aí existem. Também era muito importante saber que consequências tem o enchimento das praias sobre a biodiversidade da zona entre marés, justamente muito rica na zona central e ocidental do Algarve. Isto para além da qualidade das areias dragadas deixar muito a desejar, nomeadamente por trazerem grandes quantidades de cascalho e inúmeros fragmentos de conchas e outros restos de fauna marinha.
Neste contexto, bastante mais complicado do que parece à primeira vista, a Associação Almargem vem exigir ao Ministério do Ambiente uma maior clareza de processos, nomeadamente com discussão pública prévia das várias intervenções programadas.
Finalmente, no caso da Praia de Dona Ana, a Associação Almargem apela a todos os lacobrigenses e amigos da Costa Dourada e do Algarve para comparecerem no próximo sábado, dia 18 de Abril, pelas 15h00, junto à praia, para exigirem a suspensão imediata do processo de destruição em curso.
Loulé, 15 de Abril de 2015
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