A Almargem discorda do plano de demolições em curso na Ria Formosa, por o considerar ambientalmente inconsequente.

Argumentar com o risco da permanência de habitações num conjunto de ilhas-barreira exposto aos avanços do mar, para proceder a uma série de demolições, deixando ao mesmo tempo de pé outras construções mesmo ali ao lado e exactamente na mesma situação de risco, só porque tiveram a sorte de ser enquadradas noutro estatuto jurídico-legal, não faz qualquer sentido.

O risco existe efectivamente e abrange todas as ilhas-barreira, mas há alguns locais onde esse risco é manifestamente maior.

Os fenómenos erosivos que afectam a Ria Formosa são principalmente o resultado de episódios de tempestades de sudeste ou sudoeste, com ventos fortes e baixa pressão atmosférica, contribuindo para a elevação do nível do mar e um crescimento muito significativo da agitação marítima. Neste contexto, surgem, com frequência e coincidindo com alturas de preia-mar, fenómenos de galgamento do cordão arenoso.

Se nos focarmos apenas na zona ocidental da Ria Formosa, são 6 os locais onde a possibilidade de galgamento oceânico ou a susceptibilidade à agitação marítima são comprovadamente maiores:

1. toda a zona oceânica oriental da Ilha da Culatra (sem habitações);

2. uma faixa da zona oceânica situada entre as povoações da Culatra e Hangares (sem habitações);

3. todo o cordão arenoso numa estreita faixa marítimo-lagunar imediatamente a nascente da povoação dos Hangares, incluindo um pequeno núcleo isolado de casas a nordeste e a zona do antigo posto da Guarda Fiscal;

4. a extremidade poente da Ilha da Culatra, incluindo toda a povoação do Farol;

5. toda a zona central e ocidental da Ilha da Barreta, mais uma estreita faixa situada a nascente do Cabo de Santa Maria (sem habitações);

6. toda a península do Ancão, excepto uma pequena faixa na zona da Praia da Quinta do Lago, mas incluindo toda a povoação da Praia de Faro.

Tendo em conta a actual ocupação humana desta região, as zonas de maior risco potencial são:

- os pequenos núcleos nordeste e da Guarda Fiscal dos Hangares;

- as povoações da Praia de Faro e do Farol, apesar de nestes casos já ter havido tentativas de protecção com enrocamento da frente marítima e alimentação artificial da praia.

É aqui que as operações de demolição de casas e consolidação do cordão arenoso da Ria Formosa deviam incidir, mas de forma completa, sendo apenas poupadas construções de interesse público, para além de eventuais apoios de praia e pesca.