Odelouca: a última das grandes barragens algarvias
Barragem de Odelouca - COTA 90 APENAS!
Mais uma Barragem, na Foupana? - NUNCA!
A Almargem esteve desde o início contra o projecto de construção da Barragem de Odelouca, na medida em que esta teria graves impactes sobre o património natural e cultural, sobretudo quando, inicialmente, se apostava na sua localização a jusante da confluência da Ribª de Monchique. Conseguiu-se, pelo menos, que a barragem fosse deslocalizada, contra a expressa vontade do Instituto da Água, mais para montante, mas isso foi apenas um mal menor. O desaparecimento do lince-ibérico e as fortes exigências por parte da União Europeia que faziam depender a construção da barragem de um vasto rol de compensações ambientais, vieram provar que os ambientalistas tinham razão. E, hoje, se é possível encarar a Barragem de Odelouca como um facto consumado, tal se fica unicamente a dever ao investimento entretanto efectuado nas medidas ambientais e, sobretudo, na implementação de um plano de reintrodução do lince-ibérico em Portugal.
A Almargem, como lhe cabia fazer, não se limitou porém a dizer não porque não, procurando antes demonstrar a existência de alternativas que passavam essencialmente por racionalizar o consumo de água e evitar os enormes desperdícios que ainda hoje se verificam, facto que veio a ficar provado ser possível, ao contrário do que muitos diziam, aquando da seca extrema de 2005, em que a Região, sem racionamento do consumo doméstico, mostrou ser capaz de ultrapassar a situação. Note-se que tal só foi possível através de uma gestão integrada dos recursos hídricos superficiais (barragens) e subterrâneos (aquíferos) – entretanto abandonados - que foi exemplarmente efectuada nesse ano. Face à diminuição das disponibilidades das barragens do Barlavento (Arade e Funcho), foi a conjugação do sistema Odeleite-Beliche com vários aquíferos, em particular o de Querença -Silves que “matou a sede” a praticamente toda a Região.
Pensada para ser uma peça fundamental do Programa de Aproveitamento Integrado dos Recursos Hídricos do Algarve, idealizado há mais de 30 anos, a obra da Barragem de Odelouca constitui o derradeiro marco de uma época em que as barragens eram vistas como solução para tudo, conceito que infelizmente continua a ter muitos adeptos, mas cujos enormes impactes são agora mais reconhecidos do que nunca: retenção de sedimentos, com efeito directo sobre os fenómenos de erosão costeira, destruição irreversível de habitats, desaparecimento de património cultural, e até impactes sociais, serão certamente razões mais que suficientes para repensar a forma como queremos gerir o futuro dos nossos rios, em vez de os represar a qualquer custo.
Sem noção do real valor do escasso recurso que é actualmente a água, iludida pela promessa de água fácil e barata a todo custo, a Região e todos os seus agentes económicos preferiram há muito enveredar por um caminho de falsa fartura, graças a um turismo ávido de mais e mais água e promotor de desperdício. Sempre que havia um problema, lá estava a solução fácil - construía-se mais uma barragem… E foi assim nas últimas décadas. Primeiro, a de Odeleite e a do Funcho. Agora a de Odelouca... Depois a da Foupana... e sabe-se lá que mais. O resultado está a vista. Décadas de completa ausência de gestão dos escassos recursos hídricos da região, perda irreversível de valores naturais, dependência dos recursos superficiais sob o argumento de suposta melhor qualidade, abandono e contaminação de aquíferos, desperdício generalizado nos sistemas de distribuição (superiores a 40%) e, sobretudo, sensação generalizada de se poder gastar, gastar, gastar sempre mais.
Implementada que está a barragem na Ribeira de Odelouca, a Almargem continua ainda assim a opor-se a que a futura albufeira atinja o nível máximo de enchimento previsto, o chamado “Nível Pleno de Armazenamento (NPA)”, fixado na cota 102m, de forma a poupar, pelo menos a montante, as férteis várzeas da Sapeira (S. Marcos da Serra), mas igualmente algum do riquíssimo património natural e cultural da zona do Talurdo. Para tal bastaria que a exploração da futura barragem fosse efectuada 12 metros mais abaixo, à cota 90, o que apesar de diminuir as disponibilidades hídricas (aproximadamente 92 hm3/ano, ainda assim superiores aos sistema do Funcho-Arade, que é de 23 hm3/ano), seria mais do que suficiente para suprir as necessidades do Barlavento, permitindo diminuir drasticamente o impacto social do empreendimento, tantas vezes ignorado.
Barragem de Odelouca - COTA 90 APENAS!
A não se optar por esta opção, a Região estará em definitivo a dar um sinal de que o seu desenvolvimento é para ser feito a todo o custo, nem que o preço a pagar seja a destruição do seu riquíssimo património natural, cultural e paisagístico.
E é isso que está em causa sempre que se fala de mais uma barragem, sem que para tal haja justificação, e se apresentem alternativas viáveis, que as há. Declarações como aquelas que foram proferidas recentemente por um responsável regional a propósito do aumento das necessidades de água para alimentar os novos “ habitantes “ das mais de 80 mil camas que se preparam para invadir a Região e, obviamente, os respectivos campos de golfe, reclamando a urgência de se construir mais uma barragem, desta feita na selvagem e livre Ribeira da Foupana, são pois um triste sinal que os nossos rios ainda não estão a salvo, e que a batalha pela sustentabilidade dos nossos recursos hídricos ainda não está ganha.
Mais uma Barragem, na Foupana? - NUNCA!
No dia em que é oficialmente inaugurada a Barragem de Odelouca, com o fecho simbólico da comporta da albufeira, a Almargem preferiria que esta data marcasse antes o inicio de uma nova tomada de atitude por parte das autoridades, uma mudança que altere a forma como vemos os nossos rios, não apenas como meros locais de abastecimento de água, mas sim como parte essencial de um ecossistema que interessa preservar e que a todos deveria comprometer na sua defesa. E também o início de uma nova atitude perante a gestão dos nossos valiosos mas escassos recursos hídricos, com mais parcimónia e espírito de responsabilidade para com as gerações futuras.
Loulé, 28 de Agosto de 2009
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