Foz do Almargem: uma luz no fundo da lagoa?
Quando em 1995 o Plano Director Municipal (PDM) de Loulé entrou em vigor, uma grande parte do litoral do concelho viu o seu destino traçado, cedendo à pressão do betão, muitas vezes sob o peso dos chamados e aparentemente eternos direitos adquiridos.
Encravada entre a cidade de Quarteira e alguns dos maiores empreendimentos urbano-turísticos do concelho, a zona lagunar da Foz do Almargem constituiu umas das poucas excepções, tendo até agora escapado imune. Fruto de um contexto natural de excepção, este espaço natural foi por esse motivo reconhecido há muito pelo seu valor natural, razão pela qual ficou salvaguardado em vários Planos de Ordenamento, desde o PDM ao POOC, constituindo-se hoje como um dos últimos redutos livres de betão num litoral cada vez mais sobrelotado.
No entanto, quase vinte anos volvidos desde a apresentação das primeiras propostas de intervenção para a área, a Foz do Almargem continua a padecer exactamente dos mesmos problemas que sofria então e ainda sem qualquer perspectiva clara do seu futuro. Um futuro que, passa inevitavelmente pela assunção deste valor pelas entidades responsáveis, mas, sobretudo, pelo comprometimento em definitivo das partes interessadas numa solução que vá além das meras boas intenções, num quadro de requalificação e valorização do espaço lagunar mas também da área florestal que o rodeia.
Apesar das inúmeras agressões a que foi durante anos sujeita, a Foz do Almargem reúne actualmente todas as condições para se assumir como espaço natural único, um espaço que seja capaz de aliar a preservação dos valores naturais a uma função importantíssima de contenção e descompressão, para usufruto das populações locais e visitantes da região.
Tal como há vinte anos atrás, a Almargem continua a acreditar que a Foz do Almargem pode e deve constituir um espaço único, um espaço qualificador da cidade de Quarteira e do concelho de Loulé. Como tal, a Almargem apenas pode esperar que o compromisso de boa vontade que foi recentemente assumido por vários dos actores com interesses e responsabilidades na área (autarquias, ARH, proprietários), no âmbito de um debate promovido em Quarteira pela Almargem, constitua em definitivo uma prova irrevogável do empenho de todos na defesa de um património que, mais do que pertença de Quarteira, Loulé ou qualquer outra entidade, é parte do património da região e como tal assim deve permanecer.
Loulé, 28 de Outubro de 2009
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