Carta Aberta ao Presidente da República acerca do golfe
É o seguinte o teor de uma carta aberta por nós enviada em 1 de Julho passado ao Sr. Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, acerca das questões do golfe, e que dele ainda não mereceu qualquer tipo de resposta.
Exmo. Sr. Presidente da República
Dr. Jorge Sampaio:
É do conhecimento público que o Sr. Presidente é adepto de um determinado clube de futebol. No entanto, que saibamos, nunca esse clube utilizou tal circunstância para ganhar na concorrência com os clubes rivais e, muito menos, o Sr. Presidente tem feito questão em propalar aos quatro cantos do país que esse clube é que é bom e que deve ter o apoio dos cidadãos em geral. O Sr. Presidente tinha já uma fé clubística e não abdicou dela quando foi eleito. Está no seu direito e ninguém lhe leva a mal.
O mesmo já não se passa quanto ao seu amor pelo golfe. Se o Sr. Presidente se limitasse a jogar, mais uma vez estava no seu legítimo direito. No entanto, por diversas vezes, o Sr. Presidente tem feito uma apologia activa e entusiasta desta actividade, como aconteceu de novo recentemente em Vilamoura durante a 2ª edição da “Taça Presidente da República”.
Aqui, o Sr. Presidente viola, na nossa modesta opinião, o dever de isenção que está associado ao cargo de mais alto magistrado da Nação.
Em primeiro lugar porque o golfe está longe de ser uma actividade pacífica e conciliadora. Trata-se, pelo contrário, de uma actividade polémica com graves consequências sobre o ambiente: elevados consumos de água, poluição do solo através de uso significativo de fertilizantes e pesticidas e, sobretudo, ocupação do território e destruição irreversível de habitats com elevado valor agrícola, paisagístico ou natural.
Tem o Sr. Presidente, por exemplo, consciência das consequências para o Algarve se se atingir o número, várias vezes referido, de 50 ou mais campos de golfe, na sua maior parte instalados junto ao litoral e quantas vezes no interior de áreas protegidas?
Em segundo lugar, porque quando o Sr. Presidente dá uma tacada num qualquer campo de golfe, e ainda por cima, extravasa publicamente o seu entusiasmo por esta actividade e a vontade que tem de a ver ainda mais divulgada nomeadamente através da criação de campos de golfe municipais, os poderosos interesses que estão por detrás e em volta da indústria do golfe, de imediato se encarregam de publicitar essa mensagem preciosa (para eles) a todo o país.
Neste contexto, quanto é que não vale um minuto de telejornal em que o Sr. Presidente explica fervorosamente esta tacada ou aquela regra de golfe? Certamente muito mais do que os sempre dispendiosos e incertos momentos mediáticos com uma qualquer Claudia Shiffer. É que o Sr. Presidente, de forma certamente ingénua e não propositada, lhes promove o negócio de borla e em horário privilegiado!
Há quem diga que sempre é melhor o Sr. Presidente se dedicar a jogar golfe do que, por exemplo, a caçar veados, como acontece noutras latitudes com outros dos mais altos magistrados das respectivas nações. É uma opinião respeitável. Mas, apesar de tudo, o golfe está muito longe de ser o desporto nacional e, ao contrário da maior parte das restantes modalidades sobretudo as essencialmente amadoras, não necessita certamente dos elevados encómios de V. Exª para se desenvolver.
É pena que o Sr. Presidente, sempre disposto a abraçar causas tão nobres, dê o seu contributo mesmo que involuntário para a promoção de uma actividade que traz certamente alguns proventos económicos, enriquece de certeza absoluta meia dúzia de pessoas, mas põe quase sempre em causa o que de mais valioso e sagrado uma terra pode ter se tivermos em conta uma perspectiva de futuro e não um limitado espírito de usufruto económico a curto prazo: o seu património natural e cultural e a possibilidade de o podermos legar intacto aos nossos filhos.
Sr. Presidente: no mundo polémico e altamente rentável do golfe, ser quem V. Exª é e, ao mesmo tempo, praticante reservado e atento aos problemas que esta actividade provoca no ambiente, é uma atitude que mereceria a nossa inteira compreensão. Pelo contrário, ser seu paladino incondicional perante a opinião pública, é uma atitude injustificável que só merece a nossa mais veemente reprovação.
Serenamente e sem fundamentalismos, apresentamos a V. Ex.ª os nossos mais respeitosos cumprimentos.
Loulé, 1 de Julho de 2002
O Presidente da Direcção João António Santos
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