Após a apresentação pública do projecto de reabilitação da zona ribeirinha de Olhão, muitas interrogações se levantam sobre o destino a dar à frente marítima adjacente e ao entendimento que o Município tem sobre a relação com a Ria Formosa.

O prometedor projecto de reabilitação da Av. 5 de Outubro em Olhão e dos Jardins Pescador Olhanense e Patrão Lopes, da autoria da Arq. Amélia Santos, potencia um uso mais racional daqueles espaços, eliminando constrangimentos e procurando harmonizar os equipamentos já existentes, embora com alguns pormenores de interesse duvidoso. Um dos aspectos mais sublinhados é a manutenção da admirável e tradicional relação visual entre a cidade e a Ria Formosa.

Assim sendo, que coerência têm os planos já avançados para a ocupação da zona marítima adjacente?

O actual Porto de Recreio, com 320 postos de amarração, foi construído em frente de uma zona degradada, entretanto substituída por um  grande estabelecimento hoteleiro. Em 2016, o MInistério do Mar e a Câmara Municipal acordaram promover obras de "melhoramento, reparação, renovação, requalificação, infraestruturação e ordenamento da zona terrestre", Complementarmente foi lançado um concurso público para ampliação do Porto de Recreio para mais 60 postos de amarração, abrangendo uma área que atinge já a extremidade poente dos Mercados de Olhão. Autorizada foi também uma outra eventual ampliação do Porto de Recreio,  a qual aproveitaria as infraestruturas já existentes a nascente dos Mercados para estacionamento de embarcações de pesca artesanal, empurrando estas para dentro do porto industrial.

Nada disto é tido em conta no projecto de reabilitação da frente ribeirinha agora apresentado. Quer a infraestruturação da zona terrestre do actual Porto de Recreio, quer a ampliação do mesmo frente ao Jardim do Pescador Olhanense ou a sua expansão para leste frente ao Jardim Patrão Lopes, são aí completamente omitidas.

Significa isto que o Município de Olhão percebeu finalmente que uma zona ribeirinha com as potencialidades que a de Olhão possui, não poderia ser arrasada através de uma contínua muralha visual de barcos de recreio, impedindo o usufruto das maravilhosas paisagens da Ria Formosa? As previstas ampliações do Porto de Recreio já não vão avançar ? Se isso for verdade, a Associação Almargem só tem a regozijar-se com essa decisão.

Mas, para baralhar ainda mais todo este cenário, surgiu entretanto uma outra intenção do Município de Olhão, referente à demolição do Parque de Campismo da Fuzeta para construir no seu lugar um empreendimento turístico.  Aqui volta a existir coerência com o passado recente, onde foi, por exemplo, autorizada a construção do Del Mar Village, um extenso e cinzento bloco de apartamentos de luxo frente ao Bairro dos Pescadores da Fuzeta, retirando a estes o usufruto das paisagens da Ria onde nasceram. O mesmo irá acontecer se o Parque de Campismo for substituído por uma nova urbanização igualmente à beira da Ria Formosa e dentro do domínio público marítimo.

Qual é então, em definitivo, o entendimento do Município de Olhão: democratizar as paisagens da Ria Formosa, deixando-as livres para usufruto de toda a gente, ou torná-las exclusivas de alguns privilegiados proprietários de apartamentos de luxo e barcos de recreio?

A Direcção