Discordâncias na Praia do Telheiro
A Praia do Telheiro é um dos vários locais do Algarve que possui um valor patrimonial considerável devido à ocorrência de um geomonumento de características pouco comuns.
Para além de outras formações geológicas interessantes que aqui podem ser observadas, na extremidade norte da praia surge uma lacuna ou discordância entre os estratos rochosos, que representa um salto no tempo de mais de 50 milhões de anos, entre os xistos do Carbónico e os arenitos vermelhos do Triássico. Não sendo caso único no Algarve (existe uma outra formação semelhante, na região de Querença), esta formação geológica é conhecida em todo o mundo devido à sua dimensão e aos diversos estudos de que tem sido alvo.
Ora, nos últimos tempos, a Praia do Telheiro tem sido muito falada devido às obras de arranjo da estrada de acesso, promovidas pelo Município de Vila do Bispo, as quais motivaram diversas posições discordantes.
Os responsáveis camarários alegam tratar-se apenas de uma tentativa de delimitar o traçado rodoviário, eliminando os diversos trilhos selvagens que, ao longo dos anos, foram sendo abertos em paralelo, para aceder à beira da falésia sobranceira à praia, uma centena de metros abaixo do ponto onde normalmente a maioria dos utentes deixa os seus veículos. Para esse efeito foram efectivamente revolvidas as bermas da estrada já existente, destruindo alguma vegetação e uma parte da formação geológica de dunas fósseis que aí se encontra.
O ICNF, através do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, comunicou, entretanto, que a obra não põe em causa o Plano de Pormenor do referido parque natural, uma vez que se trata de um simples melhoramento de acessos já existentes. Na sequência dessa posição, o SEPNA-GNR limitou-se a sugerir que a obra fosse devidamente balizada e sinalizada.
Na opinião da Associação Almargem, após uma análise mais aprofundada dos acontecimentos, a resolução desta situação deverá passar pela conclusão urgente da obra, delimitando adequadamente a estrada de acesso, impedindo a passagem pelos restantes trilhos marginais e pela reposição da vegetação nesses locais e nos que indevidamente foram agora afectados.
Há, no entanto, a referir que este caso tem atingido proporções que a Associação Almargem considera serem manifestamente desajustadas. Títulos de jornal de primeira página falando da destruição do "grand-canyon" do Algarve, comentários e afirmações acerca da obra em causa como se ela estivesse a pôr directamente em perigo o geomonumento existente na praia, são atitudes que não se justificam. A estrada em questão, que foi aberta há já dezenas de anos, desce até à beira da falésia oriental da praia, enquanto o geomonumento se encontra localizado a uns 400 metros de distância, na falésia a norte da praia.
A Associação Almargem defende e apoia todas as acções que pretendam preservar, divulgar e valorizar o geomonumento da Praia do Telheiro bem como outros geomonumentos de que o Algarve é tão rico e que se encontram abandonados ou esquecidos. Pensamos mesmo que os valores existentes justificam a criação de uma estrutura conservacionista regional que possa angariar os meios necessários para promover a protecção efectiva e dinâmica de locais tão emblemáticos como a Praia do Telheiro, a Ponta da Piedade, o Maciço Subvulcânico de Monchique, os Megalapiás de Loulé, a Nave do Barão ou o Pego do Inferno, entre muitos outros.
Apelamos por isso a todas as entidades públicas e privadas que possam estar interessadas neste projecto, para que, o mais rapidamente possível, possam criar um grupo de trabalho com vista à eventual criação de um GeoParque do Algarve, disseminado através de todo o território. Seria, com certeza, mais um poderoso meio de promoção turística da região, unicamente baseado nos seus valores naturais.
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