Ordenamento
À semelhança do que aconteceu em Portugal em geral, durante séculos a agricultura constituiu a principal actividade económica do Algarve, de onde saíam então vários produtos para exportação. Por essa razão, a ocupação do território associada a esta actividade marcou profundamente, umas vezes de forma positiva, outras nem tanto, mas sempre de forma indelével a paisagem da região, até hoje.
Com a chegada do turismo, na segunda metade do século passado, a região algarvia sofreu profundas alterações económicas que levaram a uma melhoria da qualidade de vida de parte da sua população, mas que provocaram igualmente uma ruptura na estrutura socio-económica da região. Centrada em exclusivo no sector económico terciário, concretamente no turismo e serviços associados, mas igualmente na construção civil, durante as últimas três décadas a região assistiu a um crescimento urbano desmesurado, e demasiadas vezes incompatível com o desenvolvimento sustentável, nomeadamente ao nível da sobreocupação do território, em particular no litoral, mas igualmente do caos urbanístico que se instalou em várias áreas urbanas. Sem instrumentos de planeamento, e perante a passividade do poder central durante as primeiras décadas, o fenómeno turístico da região cresceu ao sabor da vontade de políticos locais e dos construtores civis. E cresceu mal. Alimentado pelo apetite voraz de um negócio centrado no lucro rápido, mas igualmente pela incúria e oportunismo de outros, a região permitiu-se em pouco mais de três décadas ver delapidar o seu território, tendo assistido em muitos casos à destruição (irreversível) de uma grande parte do seu património paisagístico, sobretudo no litoral, parte importante da sua identidade, tornando-se mesmo um exemplo do desordenamento nacional. Não faltam por isso exemplos desta verdadeiro atentando em larga escala, um pouco por todo o litoral, mas também nos principais centros urbanos: Montegordo, Faro, Praia de Faro, Quarteira, Albufeira, Portimão, Lagos, Sagres...
A partir da década de 1990 a região passaria a dispor de vários instrumentos de ordenamento e planeamento, primeiro com entrada em vigor do Plano Regional de Ordenamento do Território (PROTAL), em 1991, e posteriormente com os vários Planos Directores Municipais (PDM). Paralelamente, foram aprovados vários Planos Especiais de Ordenamento, entre os quais os Planos de Ordenamento das cinco áreas protegidas existentes na região (RN Sapal de Castro Marim e VRSA, PN Ria Formosa, PN Costa Alentejana e Costa Vicentina, e Sítios Classificados da Rocha da Pena e Fonte Benémola, ambos no concelho de Loulé), aos quais se juntariam, mais recentemente, os POOC de três troços do litoral da região (Sines-Burgau, Burgau-Vilamoura e Vilamoura -VRSA). Infelizmente, a maioria destes planos chegou demasiado tarde, e apesar da existência de um tão vasto quadro legislativo, a região continuou desde então a ocupar o seu território de forma insustentável, em nome de um turismo sem escrúpulos, continuando actualmente a ter no ordenamento um dos seus principais problemas ambientais, sobrecarregando assim vários recursos (território, água, solos agrícolas, energia e paisagem), e repetindo em muitos casos os erros que se julgavam já passados (agora já não apenas no litoral, mas também no interior, com a febre da edificação dispersa), fazendo mesmo muitas vezes tábua rasa destes planos. Exemplos não faltam.
Ainda que actualmente seja inquestionável o papel que o turismo assume na economia regional, a situação de insustentabilidade ambiental a que esta situação conduziu em várias zonas do Algarve conferem-lhe uma grande responsabilidade, e deveria como tal constituir mais que motivo suficiente para fazer a região repensar o futuro que quer para si. Por todos estes motivos, não é mais possível ficar indiferente à continuação da agressões que todos os dias são cometidas em nome do suposto desenvolvimento do betão, pelo que a participação da sociedade civil nos processos de tomada de decisão e planeamento, mas também na definição das políticas de ordenamento, quaisquer que sejam as opções que vierem a ser tomadas, assume-se hoje como indispensável para o futuro da região.
Neste contexto, a Almargem continua a empenhar-se activamente na vigilância e acompanhamento dos processos de ordenamento, mas igualmente na promoção da participação pública, contando por isso com a colaboração de todos os cidadãos preocupados.